Personagem relevante na acção d’O Primo Basílio, Jorge compõe, com Luísa e com Basílio, o triângulo amoroso que estrutura a intriga do adultério . Está ausente no Alentejo, em serviço, entre o cap. III e o cap. X, num lapso temporal de cerca de três meses.
Numa típica caracterização naturalista, o narrador ocupa-se de Jorge com alguma demora: no cap. I, uma analepse descreve-o como “robusto, de hábitos viris”, tendo herdado “a placidez, o génio manso da mãe”. Homem metódico e disciplinado, Jorge é um engenheiro prático e pouco dado a sentimentalismos: por isso, “os seus condiscípulos, que liam Alfred de Musset suspirando e desejavam ter amado Margarida Gautier, chamavam-lhe ‘proseirão’, ‘burguês’”.
Na acção do romance Jorge surge como o marido trabalhador, honesto e dedicado, cultivando, ao mesmo tempo, uma saudável amizade com Sebastião . A consequência natural das características observadas pelo narrador no passado da personagem é o desencontro relativamente a Luísa e à sua propensão romanesca; ainda assim, a família aparece dotada de uma estabilidade burguesa que, entretanto, entra em desequilíbrio com a chegada do sedutor Basílio.
É significativa a evolução de Jorge ao longo da história. No início (cap. II), julga e critica de forma intransigente a mulher adúltera, quando exige a Ernestinho Ledesma que, no drama “Honra e Paixão”, castigue a adúltera com a morte; no final, confrontado com o adultério da própria esposa, já admite o perdão. Assim, os valores burgueses do equilíbrio e da felicidade conjugal que Jorge parecia corporizar dão lugar a uma atitude algo equívoca, de culto das aparências e das conveniências sociais.