O projeto da minissérie Os Maias teve início em 1997, quando a Rede Globo convidou a novelista Glória Perez para assinar o roteiro, e Wolf Maya, a direção. A minissérie teria dezesseis capítulos, seria toda gravada em Portugal, teria Paulo Autran como Afonso da Maia e estava prevista para ser exibida a partir de janeiro de 2000. No entanto, em março de 1999, depois de trabalhar no remake da novela Pecado Capital, Glória Perez não pôde participar do projeto de Os Maias.
Então, em 2000, após o sucesso de A Muralha, a emissora escolhe Maria Adelaide Amaral para elaborar o roteiro e Daniel Filho para a direção, que posteriormente foi substituído por Luiz Fernando Carvalho. E, para colaborar com Maria Adelaide Amaral nesta elaboração do roteiro, foram convidados Vincent Villari e João Emanuel Carneiro, a mesma equipe do sucesso A Muralha. Após análise do romance, a equipe decidiu construir a minissérie a partir de três romances de Eça de Queirós: Os Maias, A Relíquia e A Capital, já que a minissérie deveria ter 44 capítulos. Nesse caso, a equipe buscou na obra de Eça de Queirós subsídios para ampliação dos capítulos.
A pesquisa para a elaboração do roteiro contou com o exame e a consulta da obra ficcional do autor de Os Maias, as correspondências, ensaios, artigos publicados em jornais, projetos de textos inéditos fornecidos pelo professor Carlos Reis e também fotografias do escritor. Dessa forma é que os roteiristas chegaram à construção de cenas e diálogos que apresentassem o mesmo tom da literatura de Eça de Queirós. As escolhas dos romances do escritor português, as inserções de textos não narrativos e não verbais, bem como de outras fontes, para que a minissérie fosse elaborada, culminaram em um complexo processo de construção do roteiro da minissérie.
No trabalho de composição, os roteiristas sentiram a necessidade de aproximar o texto queirosiano ao espectador brasileiro. Com isso, as adaptações foram conduzidas para que houvesse a compreensão da narrativa e que pudessem ser atendidos os influxos da mídia televisiva.
A roteirista-autora esteve atenta aos cuidados com a realização deste trabalho, conduzindo-se de forma respeitosa com o texto do escritor português e as estratégias utilizadas para atender aos anseios da teledramaturgia. O embate entre o “fazer dramaturgia” e a preocupação com a aproximação ao texto literário, além da preocupação em imprimir suas marcas no texto, causaram reação diversa na crítica, que antevia a reação de queirosianos acerca da inserção de outros textos do autor e dos recursos melodramáticos utilizados na versão para a TV.
Em 2004, o DVD Os Maias (versão do diretor) foi lançado pela Globo Vídeo, com a edição de Luiz Fernando Carvalho, que suprimiu os trechos da narrativa audiovisual que fazem referência aos romances A Relíquia e A Capital!.
O lançamento do DVD também possibilitou a abertura de espaços para a discussão de outras obras dos realizadores de Os Maias e comparações entre os seus trabalhos, além da discussão acerca da obra de Eça de Queirós. Nas redes sociais e blogues, a discussão acerca da afinidade entre o texto literário e o texto televisivo continua ocorrendo, especialmente no que diz respeito ao material do DVD. De março a maio de 2012, o Canal Viva (da Rede Globo) reapresentou a minissérie, o que trouxe à agenda brasileira de fãs, o retorno das participações nos grupos de discussão.
A análise da minissérie Os Maias nos faz crer que essa produção constitui-se em um cuidadoso trabalho de adaptação. O atendimento aos “influxos televisivos” de que fala Maria Adelaide Amaral não impede que a minissérie seja um dos melhores produtos da televisão brasileira.
Excerto de «“Os Maias” na televisão brasileira», por Kyldes Batista Vicente, em Jornal de Letras, Artes e Ideias, 1117, 23.7.2013