Seminário Queirosiano na FEQ

O seminário “Lógicas e figurações da personagem queirosiana” (22 a 26 de julho de 2024) tratará da representação, do significado, das mutações, das correlações comparatísticas e do potencial de sobrevida das personagens de Eça de Queirós, consideradas em diversas obras da sua produção literária. Pretende-se, assim, não só proceder a uma revisão crítica da existência ficcional desta relevante categoria, em vários tempos literários do autor, mas também lançar hipóteses de trabalho, com incidência pedagógica e com abertura, sempre que tal se justifique, a interações com outros escritores, coevos ou não, e com outras linguagens, em regime intermediático.

O seminário “Lógicas e figurações da personagem queirosiana” é organizado, em parceria, pela Fundação Eça de Queiroz e pelo Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra

Mais informações em https://feq.pt/actividades/seminario-queirosiano-2024/

Edição Crítica: Textos de Imprensa III

Ao escrever para o jornal portuense A Atualidade, Eça dirigia-se a um público específico e sobretudo fazia-o de um ponto de vista próprio. Vivendo em Inglaterra e colocando-se num específico lugar de enunciação (no caso, Londres, de onde os textos são datados), o cronista compunha uma “correspondência particular”, expressão epigrafada em cada uma das crónicas, e que resulta do nome dado à rubrica do jornal. Ou seja, trata-se de alguém que escreve a partir do centro para a periferia, fazendo-o num duplo registo epistolar e cronístico, uma combinação que encontramos em vários outros momentos e lugares da vida literária de Eça. A feição não propriamente intimista, mas simuladamente privada, destas correspondências estimula a desenvoltura do tom coloquial que nelas se revela.

As 15 correspondências que Eça endereçou ao jornal A Atualidade, por encomenda do seu diretor, Anselmo Evaristo de Morais Sarmento, distribuem-se por um lapso de tempo que vai de abril de 1877 a maio de 1878. Ao longo desse período de pouco mais de um ano, o escritor ocupa-se de acontecimentos políticos, sociais, económicos e culturais, dando notícia, para um Portugal então longínquo, do que acontecia na Europa e também na sua periferia (por exemplo, a guerra russo-turca). Mesmo sabendo-se que uma parte substancial daqueles acontecimentos chegava ao conhecimento de Eça pela leitura quase compulsiva da imprensa britânica, fica evidente que os textos daí resultantes exibem muito do estilo e da visão de um grande escritor, então já na plenitude dos seus recursos literários.

(Extrato de Nota Prévia a Textos de Imprensa III (d’A Atualidade). Edição de Carlos Reis e Ana Teresa Peixinho. Lisboa: Imprensa Nacional, 2024).