O crime do Padre Amaro, pela Editora da UERJ

O crime do Padre Amaro, lançamento da Editora da UERJ [Universidade do Estado do Rio de Janeiro], já está disponível para compra no site ou na sede da própria editora. O livro chega ao mercado em boa hora, atendendo ao estudante que precisa dessa leitura para fazer o exame discursivo da segunda fase do vestibular da UERJ, no dia 2 de dezembro.

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A edição inclui uma análise textual concebida pelos professores do Instituto de Letras da UERJ, Eduardo da Cruz e Sérgio Nazar David. Com isso, o vestibulando poderá aprofundar a sua leitura, destrinchando o estilo e as ideias do célebre autor português e compreendendo melhor o cenário político e social da época em que o romance foi lançado. (…)

Como garantia de qualidade, a EdUERJ utilizou parâmetros adotados pela edição crítica de O crime do padre Amaro, preparada pelos especialistas Carlos Reis e Maria do Rosário Cunha, publicada em 2000, pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, editora portuguesa. (continuar a ler aqui )

Leiria, 2ª metade do séc. XIX

 

Eça transmediático

Em Eça de Queirós, a modelação do mundo ficcional implica uma fenomenologia da visualização  conjugada com a estética e com a ideologia do realismo. Mas a referida modelação  vai além disso e envolve as personagens, numa dinâmica de transmedialidade que anuncia os media da imagem que hão de marcar intensamente a cultura do século XX.

Mapa da Palestina desenhado por Eça

Desde a viagem ao Egito e à Palestina,  empreendida nos fins de 1869, Eça de Queirós aprendeu a olhar o mundo em função de perceções sensoriais projetadas na escrita:  o olhar sobretudo, mas também a audição. O registo visual que Eça deixou dessa viagem – impressões de observação em que predominam a luz e a cor, bem como desenhos de mapas  – é, neste aspeto, muito significativo. Depois, a figuração das personagens queirosianas incorpora progressivamente o contributo do olhar como instância representacional, com inevitáveis efeitos  cognitivos e  sugerindo hipóteses de representação que carecem dos media da imagem.

Faz parte destas experiências o “diálogo” visual das personagens com retratos que surgem em momentos decisivos da ação romanesca. Um episódio em que esse “diálogo” suscita uma hipótese transmediática: quando, no regresso ao Ramalhete, Carlos da Maia vê o retrato abandonado da avó, Maria Eduarda Runa, é uma impressão de movimento que resulta do seu olhar:  “E no chão, na tela de Constable, encostada à parede, a condessa de Runa, erguendo o seu vestido escarlate de caçadora inglesa, parecia ir dar um passo, sair do caixilho dourado, para partir também, consumar a dispersão da sua raça…”

Aquele passo que na tela é esboçado só poderia ser plenamente captado pelo cinema;  é neste que, do mesmo modo,  virá a ser muito expressivo o recurso à metalepse  que ali se insinua (“sair do caixilho dourado”). É essa dinâmica transmediática, em que a narrativa cinematográfica parece ser convocada para aprofundar a narrativa literária, que faz da ficção  queirosiana um campo de indagação mediática que vai além dos limites do literário.

C. Reis, “Eça de Queirós e a epistemologia do olhar” (síntese). Conferência no III Encontro do Grupo Eça; Fortaleza, 29 a 31 de outubro de 2018.